Para um projeto educativo focado no bairro ou na cidade é necessário um conhecimento prévio, se existem peculiaridades, valores, histórias de pais e avós, hábitos ou costumes da região que possam estimular o interesse dos alunos, já que dela fazem parte, sem ignorar suas experiências vividas por ele, no meio em que reside, estuda ou freqüenta, antes de pensar nas estratégias a serem propostas. Um projeto desse porte pode favorecer descobertas pelo aluno como ser social vinculado ao meio inserido.
Na nossa escola, nós pensamos em um projeto que revelasse a história da cidade de Guarulhos, pois nessa cidade existem culturas oriundas do norte do país além das próprias origens da cidade na época de sua fundação.
Baseados em dados do IBGE (PNAD, 1993), verificou-se que existe um grande número de migrantes do Estado da Bahia na Grande São Paulo, ou seja, 1.120.588 pessoas. Esses migrantes se encontram em vários bairros de São Paulo, Santo Amaro, Taboão da Serra, no ABC, em Mauá e Guarulhos. Ao consultar o site da Prefeitura de Guarulhos, na Internet, buscando dados históricos, verificou-se que Guarulhos antes de sua fundação era um aldeamento dos índios Guarus da tribo dos Guaianases, integrantes da nação Tupi, que deu origem ao nome da cidade. A Idéia chave escolhida deveria levar as crianças e adolescentes que estudam na EE “Profª. Vilma Maria dos Santos Carneiro” em Guarulhos, a pesquisarem, investigarem e aprenderem em grupos, as experiências significativas e oriundas desta região e também da região Nordeste.
Procurou-se efetivar as memórias incorporando-as a partir desses grupos que viveram ou ainda vivem nesta cidade, semelhanças entre hábitos, crenças, costumes e acontecimentos passados, seja da própria cidade ou da região de onde são originários quando a ponte de referência eram os nordestinos, através de pesquisas, coleta de dados e análises entre os moradores mais antigos do bairro em questão.
A cor da pele, classes sociais, moradias, gostos culinários, aspectos físicos ou culturais, foram destacados em várias atividades realizadas nas salas de aulas, com aspectos que são resultados de gostos ou formas culturais do grupo social a que fazem parte como a família, religião, escola, etc., se percebendo envolvidos, reconhecendo as afinidades e relacionando marcas sociais entre si.
Todo esse processo fez parte do desenvolvimento do aluno e de sua apropriação, pois se tratou de um momento de descobrimento de fatos e costumes do local onde vivem e dos ambientes aos quais freqüenta. Os professores se envolveram, buscaram fotos antigas da região e através de slides, mostraram as modificações advindas com o progresso com fotos atualizadas dos locais mostrados anteriormente. Também se resgatou o hino à cidade que os alunos sequer conheciam sua existência.
Nessa ocasião, nossa escola havia recebido a denominação atual, que leva desde novembro do ano de 2009, em homenagem a nossa então Patronesse Professora Vilma Maria, ex moradora do bairro, cuja origem é o interior do estado da Bahia, seu filho mais novo é nosso aluno até hoje e ela, atuou na Unidade Escolar em 2002, 2003 e 2006, além de fazer parte de projetos sociais da Igreja Católica local.. Veio a falecer em 02 de janeiro de 2009, vítima de Câncer. A homenagem foi a pedido da Direção da Escola, enfatizado por 400 assinaturas da comunidade, mais atas do Conselho de Escola e APM à um determinado Deputado Estadual que executou o Projeto Lei, posteriormente aprovado pela Assembléia Legislativa.. Todo o processo fez parte do projeto em pauta, que se encerrou com uma solenidade de homenagem a família da patronesse, infelizmente com presença modesta da comunidade. No entanto, pode se dizer que o projeto foi um sucesso. Muitos dos nossos objetivos foram atingidos e o envolvimento da equipe escolar foi contagiante.
Porém, nem todas as nossas idéias conseguem alcançar o mesmo nível de euforia. Em outro projeto pensado pela equipe escolar que visava ampliar o universo cultural dos alunos além de envolver a comunidade estava indo muito bem no início, mas acabou se perdendo pelo caminho.
Tratava se de um projeto que induzia a leitura de vários gêneros literários aos alunos visando aproximá-los dessa natureza. Era efetivado através da entrega semanal pela Direção/Coordenação de uma mochila contendo livros, gibis, panfletos, folders e cordéis variados à cinco ou seis alunos e ficam encarregados de ler o conteúdo do kit com seus familiares. Após uma semana, realizávamos as trocas dessas mochilas entre outros alunos de uma mesma sala. Além do acervo literário, o Kit possuía um caderno onde os leitores deviam realizar registros sobre as experiências da leitura coletiva ou individual obtida a cerca dos livros, dos escritores, poetas, ilustradores, das histórias lidas e das que gostariam de ler, seja este o aluno ou seus familiares. Verificava se, que a leitura desses registros pelos receptores do Kit a cada semana, contagiava e estimulava os novos leitores.
Infelizmente, os professores não se envolveram de fato, algumas famílias não devolveram as mochilas na data marcada, não tínhamos pessoal disponível para questionar por essa devolução, alguns kits se perderam e o projeto foi abandonado talvez por falta de compromisso de alguns familiares, ou por falta de recursos humanos por parte da escola, ou pelo tempo que começou a se tornar escasso mediante outros afazeres no dia a dia da Direção e Coordenação da Escola, ou ainda pela falta de melhor planejamento do processo. Mas ainda queremos reformular nossas ações e retomá-lo, porque os poucos resultados conquistados foram significativos. Os pais que se empenharam em seguir as regras do “jogo”, fazendo a leitura em casa, registrando o que haviam realizado e devolvendo na data marcada com responsabilidade, revelaram que a nossa idéia era interessante, além de proporcionar momentos diferenciados em sua rotina familiar.