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Diretora de Escola Pública Estadual

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Tempo e Espaço Escolar

O ritmo dos alunos não condiz com a organização tradicional do espaço e do tempo escolar, com carteiras fixadas no chão, uma atrás da outra, preferencialmente sem se mexer e sem qualquer tipo de manifestação verbal. Acabam por desrespeitar esse tipo de condição imposta. Pelos alunos, é desejado situações que favoreçam o relacionamento com os colegas, a flexibilidade de postura, maior autonomia e liberdade. Para tanto, os professores sabem que devem permitir agrupamentos e oferecer aulas mais dinâmicas, oferecer situações voltadas à realidade, envolver o entorno escolar na proximidade dos alunos com a natureza e áreas verdes. No entanto, o envolvimento da maioria dos professores nessas posturas tem sido muito difícil. De um modo geral, o professor entende que esse tipo de aulas gera indisciplina e prefere se manter no modo tradicional. Infelizmente muitos ainda não têm a compreensão de que

“...além, de ensinar a ler, escrever e contar, a sociabilidade exercitada na escola ensinaria também civilidade e visaria à formação do cidadão respeitoso e obediente, conhecedor de seus direitos e, sobretudo, de seus deveres.”

Acabo de ter meu cargo público removido de unidade escolar, da Grande São Paulo para o interior desse mesmo estado, e estou com muitas perspectivas no atual corpo docente que me acolheu. Eles parecerem fazer parte da minoria e daqueles que compreendem a responsabilidade social que devem desenvolver em seus alunos.
Como exemplo, posso relembrar uma situação vivida quando trabalhei como gestora em uma escola, ainda na grande São Paulo e fui levada a solicitar que se extinguissem as salas ambientes em virtude da extensa área construída, que favorecia a depredação do prédio escolar, conflitos entre alunos de turmas distintas, arremessamento de bombas domésticas no professor que aguardava dentro das salas de aulas, entre outras atitudes de rebeldia durante o trânsito de discentes pelos corredores e demais espaços da Unidade Escolar. Com essas ocorrências, perdia-se muito tempo na locomoção dos alunos o que diminuía consideravelmente o período destinado as aulas. As condições espaciais concretas nesse caso não favoreciam a sociabilidade escolar. Essa experiência me levou a desaprovar o emprego das salas ambientes, levando-me a criticar essa forma de trabalho por muito tempo. Esta escola em que estou atualmente possui área construída consideravelmente menor a escola mencionada anteriormente, e a sala ambiente existe aqui há 11 anos. Minha observação atual é que essa iniciativa tem trazido grandes benefícios ao coletivo desta escola. Pode se alegar que a arquitetura escolar aqui favorece o condicionamento comportamental dos alunos, enquanto espaço formativo e possuidor de intencionalidade educativa. Também estes professores não poupam esforços para desmistificar suas rotinas, trabalhando com cartazes, jogos lúdicos, até mesmo utilizam morangos no estudo do DNA, e estes são meros exemplos dessa dedicação. Apesar dessa constatação, a escola vem encontrando resistência dos órgãos superiores por esse tipo de organização não possuir amparo legal. E dessa forma, a garantia dada pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB, que afirma que a elaboração do projeto pedagógico é um exercício de autonomia pedagógica, tende a ficar prejudicada. Já que o espaço escolar vem proporcionando sociabilidade, civilidade e a formação dos alunos com bons resultados geram-me a curiosidade em saber qual seria o propósito educativo da Diretoria de Ensino com essa retroação?
Para Azanha, (1998, p.03), "a autonomia da escola numa sociedade democrática é, sobretudo, a possibilidade de ter uma compreensão própria das metas da tarefa educativa numa democracia". Entendo que se refere às possibilidades de fazer escolhas visando um bom trabalho educativo.
Então concluo que, se podemos fazer valer que o projeto pedagógico da escola ao ser construído coletivamente, deverá levar em conta as condições de infra-estrutura da instituição e a melhor maneira de seu aproveitamento a fim de beneficiar o ensino e a aprendizagem. Que, além disso, o projeto pedagógico deve orientar a organização da escola de um modo geral e a organização das salas de aulas, buscando promover a organização do trabalho na escola em sua totalidade, incluindo a gestão do tempo e do espaço, as salas ambientes tem sido uma excelente iniciativa no favorecimento à aprendizagem escolar desta escola, mesmo sem amparo legal, contrariando o que dizem os responsáveis pela Diretoria de Ensino e ainda, correndo o risco de termos tudo levado por água abaixo pela falsa autonomia que nos é oferecida.



REFERÊNCIAS

AZANHA, José Mário Pires. Educação: temas polêmicos. São Paulo: Martins Fontes, 1995.
Texto Base da semana 5 – Tema 4 – O Espaço Escolar - Redefor

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